(conteúdo publicado na Revista Terroir Boccati Edição 01 – Outono)
Regina Vanderlinde, atual candidata à presidência da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), conta um pouco de sua trajetória. A mestre em enologia traz as experiências mais marcantes que vivenciou dentro deste universo, além de suas expectativas futuras para o mundo do vinho.
Conhecimento que rompe fronteiras e paradigmas!
PERFIL DE REGINA VANDERLINDE:
Naturalidade: Braço do Norte – Santa Catarina
Formação: Graduada em Farmácia Bioquímica Tecnologia de Alimentos – Universidade Federal de Santa Catarina / Mestre em Enologia Ampeologia – Université de Bordeaux II (França) / Doutora em Enologia e Ampelologia – Université de Bordeaux II (França)
Atuação Profissional: Professora na Universidade de Caxias do Sul – UCS, no curso de Pós-Graduação Biotecnologia e no Mestrado Profissionalizante de Biotecnologia e Gestão Vitivinícola.
Secretária científica da subcomissão de métodos de análise da Organização Internacional da Vinha e do Vinho – OIV.
Vinho com água e açúcar. Essa era a bebida que Regina Vanderlinde tomava em sua infância no lugar de refrigerantes. Acompanhada do avô e do pai, apreciadores de vinho, Regina sempre se interessou pelo sabor, aroma e peculiaridades da bebida.
Essa apreciação tornou-se estudo quando optou pelo ramo do vinho em seu estágio no curso de graduação de Farmácia Bioquímica Tecnologia de Alimentos na Universidade Federal de Santa Catarina. Segundo Regina, após entrar nesse ramo, há 32 anos, nunca sentiu vontade de sair.
Na época, não havia curso de enologia no Brasil, estudar fora era muito caro e não havia a abertura que existe hoje aos estudantes, como incentivos para intercâmbios. Insistente, Regina fez um projeto para concorrer a uma bolsa de estudos na Europa. Mesmo com o desafio de se comunicar com o professor do exterior por carta, pois ainda não tinha acesso à internet, conseguiu a tão sonhada bolsa de estudos e, no dia 14 de setembro de 1989, partiu para a França, onde ficou por seis anos estudando e concluiu seu mestrado e doutorado.
ATUAÇÃO NA OIV
Regina participa da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) como expert e como delegada oficial, representando o Brasil desde 2001. Além de fazer parte da comissão de enologia, também atua em diversos grupos como comitê executivo e assembleia geral. Em 2012, foi eleita secretária científica da subcomissão de métodos de análise e, pela primeira vez, nosso país obteve um cargo dentro da OIV. No ano de 2015 foi reeleita para a mesma função, cujo mandato se encerra em dezembro de 2018.
Indicada para a candidatura à presidência da OIV, Regina aguarda as eleições que ocorrem em seis de julho deste ano e que acontece ao mesmo tempo das eleições para diretor geral, o qual precisa morar em Paris, onde fica a sede da organização. Já o presidente, cujo cargo não é pago, fica em seu país de origem, seu mandato é de três anos e seu trabalho é representar a instituição e comandar a assembleia geral, o comitê executivo e dirigir o comitê técnico-científico.
A indicação oficial do Brasil para a candidatura à presidência é feita pelo Ministério da Agricultura, o qual entendeu que Regina, por ser reconhecida na OIV e por conhecer o funcionamento da organização, teria todas as chances de exercer o cargo. Apesar de o Brasil ser membro da organização, nunca ocupou um cargo de presidente e além de ser um ponto de promoção, seria uma oportunidade de desenvolver em todos os sentidos o setor vitivinícola brasileiro.
A participação de Regina nas eleições para presidente da OIV, ajuda a contribuir na divulgação do setor de vinhos do Brasil. “É uma grande oportunidade de marketing, pois o Brasil ainda é um país pequeno em produções comparado aos países mais tradicionais. O fato de divulgar o vinho brasileiro já é um grande feito”, afirma a enóloga.
Uma contribuição que, se eleita, Regina poderia trazer ao país é a internalização da OIV. Atualmente, o Brasil é membro da organização, porém ainda não internaliza diretamente as recomendações da OIV e ainda não adotou totalmente a legislação. Algumas técnicas e produtos enológicos recomendados pela OIV ainda não são permitidos no Brasil pois aqui no país quem tem o controle é a Anvisa – Ministério da Saúde.
“Às vezes a Anvisa não tem o entendimento do fato de que muitas vezes os produtores brasileiros não podem usar certos itens na produção, os quais todos os outros países usam. O vinho importado vem para cá com esses benefícios e as pessoas aqui bebem o vinho importado. Então, não é um problema de saúde, é um problema somente de gestão. Precisamos que o Brasil adote a OIV em todos os níveis, tanto na aplicação de metodologias de análises para os laboratórios, quanto para os aditivos, coadjuvantes e técnicas enológicas. O caminho é esse, unificar”.
Ainda, segundo Regina, o Brasil tem todas as condições de concorrer com igualdade de qualidade com vinhos de qualquer país tradicional, porém precisa de mais união, de políticas enológicas para redução de impostos, e, que decidam, por exemplo, qual variedade de uva deve ser plantada e aonde. “Começa por aí, nossa matéria prima. Precisamos de uma política mais efetiva e com mais integração. Só assim o Brasil vai fazer face diante dessa grande quantidade de vinhos que entra no país”.
INGRESSO DE MULHERES NO SETOR DE VINHOS
Quando Regina começou a atuar no setor de vinhos, não existiam muitas mulheres nesse meio. Segundo ela, existia um machismo muito grande em relação à contratação de mulheres como enólogas de cantinas, também nunca houve uma presidente na Associação Brasileira de Enologia e, apesar de já ter melhorado e muitas mulheres estarem conquistando seus espaços, ainda existe um pouco de preconceito no Brasil. “As mulheres têm tanta capacidade quanto os homens para todo tipo de serviço. Não é uma questão de se sobrepor, existe espaço para todos. Inclusive existe uma maior participação das mulheres nos cursos de Enologia.
O CONSUMO DO VINHO
O consumo do vinho no Brasil é baixo se comparado a países mais tradicionais, que iniciaram há séculos a produção da bebida. Na Europa, por exemplo, há uma cultura do vinho, enquanto que no Brasil, país tropical, tem um consumo maior de outras bebidas, como é o caso da cerveja. O europeu tem mais acesso ao vinho, enquanto que o custo da bebida no Brasil é muito alto, para todas as classes. Além de uma questão de tradição, o consumo do vinho também está aliado ao poder aquisitivo.
Quando questionada sobre a gastronomia, Regina afirma que está diretamente relacionada ao consumo do vinho. Assim como a bebida tem sua tipicidade, seu terroir, a gastronomia também tem suas tipicidades de região, de país e de cultura.
“Dificilmente alguém vai beber o vinho sem estar acompanhado de uma refeição. Não tem como separá-los”, diz.
Dentro desse universo do vinho, que também envolve o mundo Boccati, fica o nosso apoio à candidatura de Regina Vanderlinde à presidência da OIV e nossa torcida para que, independentemente do resultado, possa continuar agregando com seu vasto conhecimento o setor da viticultura no Brasil.
ATUAÇÃO NO IBRAVIN
O Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN) nasceu em 1998 para representar produtores de uva, sucos, vinhos e espumantes do país. Além de contribuir com o desenvolvimento da cadeia vitivinícola brasileira, estimula e fiscaliza o setor, promove e divulga os derivados da uva e do vinho no Brasil e exterior. É reconhecido pela OIV como responsável por conduzir as demandas das vinícolas brasileiras no ambiente internacional.
Regina atuou por 17 anos no IBRAVIN, onde criou o laboratório de referência enológica do estado, o LAREN. Esse laboratório, iniciado do zero, contribuiu para melhorar a qualidade do vinho brasileiro. Agora, por questões políticas, não pode comandar um laboratório público, porém Regina continua tendo contato com o Ibravin, instituto que apoia sua candidatura à presidência.
Organização Internacional da Vinha e do Vinho
Criada em 1924 como Oficina Internacional da Vinha e do Vinho, passou a Organização em 2001. Com sede em Paris, é composta atualmente por 45 Estados membros. Com caráter científico, a OIV tem como objetivo o aconselhamento e a padronização dos setores ligados a viticultura.