por Marcelo Weigl
(conteúdo publicado na Revista Terroir Boccati Edição 07 – Primavera)
Desta vez iremos descomplicar o nosso vizinho, menor que muitos dos estados brasileiros, mas considerado uma potência na produção vitivinícola mundial: o Uruguai. O país tem a cultura do vinho bem difundida, o consumo per capita é de 27,80 litros, enquanto no Brasil é de apenas 1,7 litros (OIV 2017). Sua produção é de mais de 150 anos e sua principal casta, originada em Madiran no sudoeste francês, é a Tannat, também conhecida no país como Harriague (homenagem dada ao imigrante francês Don Pascual Harriague, que fez as primeiras plantações da casta por volta de 1850). Mas com essa experiência na produção e com uma área de 10 mil hectares de vinhedos, os uruguaios vão além dessa uva. Existe uma bela produção de Albariños, Chardonnay, Viognier, Cabernet Franc, Merlot, entre outras.
Com um clima marítimo temperado, por estar localizado entre o oceano Atlântico, o Rio da Prata e o Rio Uruguai, e estar dentro dos paralelos 30 e 35, região aonde se encontram as principais vinícolas do Chile, Argentina, África do Sul e Nova Zelândia, o Uruguai tem um ótimo terroir para a produção de vinhos. O sol incide na maior parte do ano, com uma temperatura média de 18°C e a noite, a temperatura cai. Com essa amplitude térmica e uma pluviosidade média de 900mm anual, o resultado na produção de vinhos é um amadurecimento mais lento das uvas, uma acidez mais equilibrada, um teor alcoólico moderado e uma maior complexidade de aromas.
O Uruguai conta com aproximadamente 10 regiões principais na produção de vinhos, a principal Canelones. Lá se concentram a maior parte das vinícolas localizadas a 30km de Montevidéu. Entre as outras regiões, estão Carmelo, Maldonado e Rivera. A vindima (época de colheita e produção dos vinhos) é em fevereiro, mas como é um país que vem sendo muito procurado por turistas do mundo inteiro, as vinícolas têm programas de visitação o ano inteiro.
Como no Uruguai as estações são bem definidas, e o inverno bastante frio, é encontrada uma variedade de pratos mais “pesados” e condimentados. Um dos principais setores do país é a pecuária, que se baseia em carnes, queijos e laticínios. Um dos pratos mais famosos é a Parrillada, que é composta por vários tipos de carnes, feitas em uma parrilla (churrasqueira uruguaia), que harmonizam muito bem com a casta principal do país.
Uma combinação de carnes com estruturas e formas de cocção diferentes harmoniza perfeitamente com as características do Tannat feito no Uruguai. Por ser um prato de carnes de diferentes tipos, cortes e origens, pede tanicidade e corpo, além de acidez e fruta equilibradas com a complexidade de aromas. O filé mignon (chamado de lomo no Uruguai) é uma carne menos gordurosa, então não precisa de tanto tanino quanto necessita uma alcatra (cuadril no Uruguai), por exemplo, que é um corte mais gorduroso. Dessa forma o Tannat se adapta muito bem à Parrillada, pois apresenta um equilíbrio interessante entre tanicidade, corpo e fruta, harmonizando com todos os tipos de carne.
E essa é só uma das possíveis harmonizações que você encontrará no Uruguai. Para quem pensa em se aventurar pelas terras dos hermanos uruguaios, terá uma viagem completa garantida. Encontrará uma ótima gastronomia, desde um simples lanche da tarde até uma farta refeição acompanhada de um belo vinho, além de paisagens belíssimas e atrações. Um brinde! E bom passeio!