por Marcelo Weigl
(conteúdo publicado na Revista Terroir Boccati Edição 09 – Outono)
Em 2019 planejei uma viagem ao Chile com alguns amigos. Nossa ideia era ir ao Valle Nevado para experimentar um esporte que nunca havíamos feito antes: o snowboard. No início, pensei que esse seria o único foco da viagem, porém, como enófilos assumidos, acabamos tornando ela uma #vinotrip.
Nos recomendaram levar tudo o que iríamos consumir, pois o acesso lá não é tão fácil na temporada de neve. As montanhas ficam cobertas de gelo, o que dificulta a locomoção. Então, escolhi alguns rótulos que não encontramos no Brasil, vinhos que realmente eram novidade para nós. Costumávamos fazer jantas no apartamento em que alugamos para apreciar as bebidas e, com isso, iniciou a nossa experiência enogastronômica e esportiva no Chile.
Após o período em que ficamos no Valle Nevado, partimos para a capital Santiago. Lá, conhecemos o Patio Bellavista, caracterizado por possuir diversos restaurantes de diferentes estilos e nacionalidades, além de bares e cafés. Assim, seguimos a viagem com o foco enogastronômico.
Enfim, fomos visitar a Vinícola Casas del Bosque, localizada em Casablanca Valley, há mais ou menos uma hora de distância de Santiago, de carro, uma viagem rápida e bem tranquila, além de muito bonita. No caminho passamos por outras vinícolas, também localizadas na região, que é muita famosa pela produção de vinhos de alta qualidade.
Ao chegar na entrada da Casas del Bosque, nos encantamos. É uma vinícola modesta, porém com as melhores acomodações internas. É um lugar lindo, cheio de árvores, com playground para crianças na frente da propriedade, amplo estacionamento e uma recepção muito aconchegante.
Tour pela Casas Del Bosque
Começamos o tour assistindo um vídeo sobre a história da vinícola, fundada em 1993 pela família Cúneo, de origem italiana, que com grandes e velhos pinheiros somados às oliveiras, construíram um cenário espetacular com casebres brancos, dando origem ao nome “Casas del Bosque”.
Como é localizada numa região de clima frio, as produções se concentram em: Sauvignon Blanc, Chardonnay, Riesling, Pinot Noir e Syrah. As outras castas, Cabernet Sauvignon e Carménère, são cultivadas na região de Maipo, nos vales do Colchagua e do Cachapoal (diferença de uma hora de viagem entre as duas regiões). Com uma área total de 235 hectares, produz anualmente 1,2 milhões de garrafas de vinho, sendo que 80% dessa produção é dedicada à exportação e somente 20% ao mercado chileno.
Um dos grandes diferenciais da vinícola é seu solo, localizado nas colinas, com um subsolo argiloso de origem vulcânica, que fica no topo de camadas de granito decompostas há mais de 100 milhões de anos. Antigamente, era discutido se a região era melhor para o cultivo das uvas, observando mais o clima, exposição ao sol e altitude. Mas, agora o solo é tão ou mais importante, as rochas vulcânicas são muito porosas e a água que passa entre elas se estoca entre as mesmas, trazendo minerais, além de manter uma ótima irrigação natural, até mesmo em épocas de secas.
Com tudo isso, as raízes das vinhas sempre se mantêm ativas e bem nutridas, trazendo uma ótima condição para que as uvas se desenvolvam e produzam vinhos de ótima qualidade. Com esse solo da Casas del Bosque, os vinhos terão grande potencial de guarda, encorpados e minerais.
Após o tour pela vinícola, fomos para a degustação em uma sala específica, confortável e muito bem decorada. Degustamos os brancos da linha Reserva, o Sauvignon Blanc e o Chardonnay, vinhos muito frutados, refrescantes e com ótimo custo-benefício. Já, os tintos que provamos, eram da linha Gran Reserva, o Pinot Noir e o Syrah. Já havia degustado esses rótulos, mas refazer a degustação em uma viagem guiada pelo pessoal da própria vinícola é outra história.
Ao final, eles nos proporcionaram a degustação do vinho ícone, o Gran Estate Selection, que foi o auge da visita. O vinho é composto por 90% Syrah e 10% Pinot Noir. Estrutura, taninos e presença vindos do Syrah muito bem harmonizados com a fruta e delicadeza do Pinot Noir, isso tudo combinado com 22 meses de carvalho francês de primeiro uso. Nunca havia degustado um corte dessas duas uvas. Gostei tanto que comprei uma garrafa, que ainda está esperando para ser aberta em uma ocasião muito especial.
Na vinícola, há também a opção de passeios de bicicleta pela propriedade, recomendado em épocas quentes, para aproveitar melhor a paisagem. Como fomos em uma época de frio e não tinha muito sol durante o dia, infelizmente não pudemos fazer o passeio. No Chile, a vindima ocorre entre março e abril, época em que intensifica o movimento de turismo nas vinícolas e cada região prepara a sua festa para celebrar o período.
A Casas del Bosque conta com três restaurantes próprios, localizados em lugares diferentes dentro da vinícola: Tanino, Casa Mirador e o BO, todos sob reservas. O mais procurado é o restaurante Casa Mirador, localizado no alto dos vinhedos com uma vista linda.
Já conhecia alguns rótulos dessa vinícola e sempre sugeria aos clientes da Boccati, mas após conhecer toda a história, o lugar e a paixão deles pelos seus produtos, indico de olhos fechados e falo para todos que forem ao Chile! Incluam no roteiro uma passada em Casablanca e, principalmente, a visita na vinícola Casas del Bosque, pois eles elevaram, e muito, o nível dos vinhos chilenos.