por Camile Calza
(conteúdo publicado na Revista Terroir Boccati Edição 04 – Verão)
Fé, dedicação e persistência. Essas são as principais características do trabalho daquelas que, por vezes, não aparecem, mas que são essenciais para o futuro do vinho brasileiro. Desta vez, gostaria de destacar as mulheres que dedicam todo o seu amor e esforço no cultivo e colheita de uvas. Assim, estive em Bento Gonçalves (RS) para conhecer três grandes mulheres que são associadas e fornecedoras da Vinícola Aurora: Ivani Marcolin Sonaglio (56), Salete Maria Moroni Pozza (49) e Elizane Fátima Szefer Riboldi (36).
Ao encontrá-las, percebi o apreço que têm pela vitivinicultura, mesmo sendo um árduo trabalho. A “lida”, como costumam chamar, inicia por volta das seis horas da manhã, quando munidas de luvas e tesouras, partem a pé, de trator ou de carro até os vinhedos. As tarefas variam de acordo com a época do ano, mas todas exigem muito cuidado para que resultem em uvas de qualidade. Sabemos que há grandes dificuldades nessa atividade devido às mudanças climáticas, em um rápido temporal, por exemplo, pode-se perder um ano inteiro de trabalho. Por isso, as três mulheres destacam a coragem que um vitivinicultor deve ter. Além do clima, ainda existem momentos de instabilidade no mercado, que demandam a procura de outras alternativas, como a família de Ivani, que também se dedica na produção de chimias e geleias.
Durante o bate-papo descobri que todas construíram sua vida ao redor das parreiras. Elizane nasceu em meio à agricultura e há 19 anos, quando se casou, passou a trabalhar na colheita de uvas. O mesmo aconteceu com Ivani, que iniciou o trabalho ao conhecer o esposo, há 39 anos. Já Salete, começou ainda mais cedo, com 12 anos já estava em meio aos vinhedos. Perguntei a elas sobre alguma situação de preconceito durante suas trajetórias como vitivinicultoras, e felizmente, disseram que nunca sofreram com isso, “a não ser pelo fato de dirigir um trator ou caminhão”, contou Salete com bom humor.
Como a maioria das mulheres, Ivani, Salete e Elizane tem dupla jornada, também são donas de casa e mães. Como mães, as questionei sobre o futuro do jovem na vitivinicultura e confirmamos o que já pensávamos: na maioria das vezes não há participação. Porém, os avanços tecnológicos vêm mudando esse cenário, “eles estão mais confiantes sobre o futuro devido à modernização, que oferece recursos que facilitam o trabalho no campo”, diz Salete. O sentimento de que teremos mais jovens vitivinicultores é positivo, dos três filhos de Ivani, por exemplo, dois continuam na propriedade e a terceira participa sempre que possível.
Depois de uma agradável tarde em meio aos parreirais da Vinícola Aurora, em Pinto Bandeira, posso dizer que conheci três mulheres batalhadoras, de riso fácil e que valorizam muito a família. Ivani, Salete e Elizane têm orgulho em mostrar as delicadas mãos calejadas e dizer que são vitivinicultoras, pois acreditam no futuro de sua profissão. Como mulheres, defendem a força feminina, seja em casa, nos vinhedos ou onde nós desejarmos.