por Rodrigo Webber
(conteúdo publicado na Revista Terroir Boccati Edição 01 – Outono)
Com madeira ou sem madeira? Eis a questão! O envelhecimento dos vinhos em barricas, principalmente em carvalho, é um assunto complexo que divide opiniões. Há aqueles que preferem um vinho sem passagem em madeira, optando por um vinho de caráter jovial, mais frutado e refrescante. Porém, para alguns paladares essa etapa beneficia o vinho, tornando-o mais complexo e interessante.
Nem só de carvalho vive o mundo do vinho, é possível encontrar aqueles que estagiam por determinado tempo em acácia ou cerejeira, apesar de não ser algo muito comum. Também já foram realizados testes com outras madeiras, como mogno, castanheira, entre outras. Entretanto, é possível afirmar que o carvalho é a madeira que melhor combina com o vinho. Além disso, une características importantes e determinantes para sua utilização, pois o carvalho é leve, maleável e ao mesmo tempo muito resistente e impermeável.
Para entender um pouco mais sobre esse universo, voltamos às origens da vinificação: no início, as barricas – bottis ou pipas – tinham a finalidade de simplesmente armazenar a bebida, seja para estocar ou para transportá-la. Atualmente, tornaram-se um instrumento determinante na característica dos vinhos, tornando-os mais agradáveis para alguns paladares.
Mas de que maneira a madeira pode alterar as características do vinho? Ao ser envelhecido em madeira, o vinho passa por um processo de micro-oxigenação. Por ser porosa, a madeira permite a passagem de uma pequena quantidade de oxigênio, fazendo com que tenha uma pequena, lenta e benéfica oxidação, deixando o vinho mais longevo (mais tempo de guarda). Esse processo também amacia os taninos, altera sua coloração, concede maior estrutura e, por fim, um dos maiores benefícios: possibilita um ganho na complexidade aromática.
Ao falar sobre características aromáticas é importante detalhar alguns fatores, os principais: o tipo da madeira, seu nível de tosta e sua utilização. Uma barrica pode ser reutilizada, mas é claro que quanto mais nova, maior será sua influência na bebida. Uma barrica que passa por um processo de tosta leve tende a fornecer aromas mais sutis, como amêndoas e caramelo. Já em casos de uma tosta alta, os aromas são mais intensos, remetendo a tabaco e especiarias. Entretanto, o tipo e a origem da madeira tem influência crucial nas características transferidas ao vinho. Agora tratando especificamente do carvalho, vamos descrever as duas principais variedades:
Carvalho Francês: assim como a uva, o carvalho é o reflexo de seu terroir. O nobre território francês também é especialista na produção de carvalho, fornecendo madeira de altíssima qualidade. Normalmente é um dos materiais mais caros, custo que reflete no preço dos vinhos. Tudo depende da variedade e da procedência da madeira, mas pode-se dizer que as principais características do carvalho francês refletem em aromas de café, baunilha, tabaco e especiarias como pimenta e cravo. Além disso, concede ao vinho taninos mais suaves e macios. É comum ser utilizado para envelhecer vinhos mais sutis e elegantes, com menor potência.
Carvalho Americano: devido à sua produção e características da madeira, normalmente custa menos do que o carvalho francês. Mas, além disso, a escolha da madeira é feita pelo enólogo de acordo com o resultado que ele deseja atingir. Este carvalho tradicionalmente é indicado para tintos mais robustos, típicos do novo mundo. Ao vinho, é comum trazer aromas que remetem a coco e baunilha. O carvalho americano tende a permitir menor oxigenação do vinho, portanto, seu desenvolvimento é mais lento.
Fique atento aos vinhos de baixo custo e com notas de madeira bastante evidentes. Além das barricas de carvalho, é muito comum as vinícolas utilizarem chips, que são lascas, retalhos ou até mesmo a serragem do carvalho, porém o que falta é a informação clara no rótulo do produto. Estes chips são deixados em contato com o vinho e depois removidos, isso potencializa a característica de madeira no vinho. Esta é uma alternativa para fornecer ao vinho características da madeira, por um preço mais acessível. Vale ressaltar que este processo não é prejudicial ao vinho e nem à sua saúde.
No mundo do vinho, quem decide é o consumidor! Carvalho francês, americano ou outras alternativas. O importante é que o vinho agrade ao paladar de cada um.