Gilberto Simonaggio: enólogo há mais de 20 anos na Vinícola Miolo

por Luana Foscarini

(conteúdo publicado na Revista Terroir Boccati Edição 09 – Outono)

Foto: Everson Almeida

A partir desta edição, a Revista Terroir Boccati passa a ter a matéria Por Trás do Rótulo. Tive essa ideia no ano passado e resolvemos colocá-la em prática em 2020. Vou entrevistar pessoas que ficam nos “bastidores”, pessoas responsáveis até mesmo pelo sucesso de um vinho ícone. Pensando nisso, inicio com um grande expert: Gilberto Simonaggio. Técnico em Enologia pela Escola Agrotécnica Federal Presidente Juscelino Kubitschek, nosso entrevistado atua como Enólogo Residente da Miolo há 22 dos 31 anos de existência da vinícola.

Natural de Dois Lageados (RS), aos 11 anos de idade se mudou para Bento Gonçalves (RS) para estudar e, durante o Ensino Fundamental, conciliava o período de aula com o trabalho no vinhedo da família Donatti (associados da Cooperativa Aurora). Foi aí que Gilberto “pegou o gosto” em cuidar das parreiras e fazer vinho, “ajudava o Vô Silvino a prensar o bagaço”, diz ele. A produção de uvas e vinhos não era tradição da família de Gilberto, mas, por sua influência, agora produzem uvas e fazem vinhos de maneira artesanal.

Após estagiar na Casa Valduga, Simonaggio aceitou o convite de Adriano Miolo, em 1998, para fazer parte da equipe da Miolo. Nesse ano, a vinícola iniciou um processo de centralização e modernização das atividades relacionadas à elaboração de vinhos e Gilberto participou dessa transição. No ano de 1999, considerada uma das melhores safras da década de 1990 (junto com as safras 1991 e 1997), elaboraram o primeiro vinho ícone da Miolo: o “LOTE 43 safra 1999”, percursor dos vinhos de alta gama do Brasil. Nosso entrevistado relevou que, ali, começavam os desafios para elaborar vinhos de qualidade, já que muitas técnicas aplicadas hoje ainda não eram conhecidas.

Conta Gilberto que, naquela época, trabalhavam em média 15 horas por dia, e não somente no período da colheita da uva, era assim o ano todo, pois estavam ampliando as instalações e as vendas triplicavam ano após ano. Nesse período fazia diversas funções: rotulava os vinhos no porão da casa do “Seu Darcy” (pai de Adriano, um dos fundadores da Miolo), ajudava na Osteria Mama Miolo¹ nos almoços e jantares e ainda, nos finais de semana, atendia os turistas no varejo.

Foto: Arquivo Pessoal
Adriano Miolo, Gilberto e do sommelier Manuel Luz degustando vinhos direto dos tanques da vinícola, em 1998.

Assim como a Miolo, Gilberto também evoluiu e começou a atuar somente na vinícola. Inicialmente trabalhava nas filtrações dos vinhos, depois passou a coordenar a equipe de produção. Hoje, cuida da elaboração dos vinhos com D.O. (Denominação de Origem), além da padronização e preparo de todos os vinhos engarrafados no Vale dos Vinhedos (linhas Miolo, Seival e Almadén). Gilberto diz que seu maior orgulho, além de suas duas filhas, é fazer parte do grupo de enólogos da Miolo.

“Para um enólogo não tem recompensa maior do que trabalhar em uma empresa que é referência quando se fala em qualidade de seus produtos. Hoje, nós enólogos do Grupo Miolo, trabalhamos em sincronia, temos liberdade de opinar, participar e intervir em qualquer operação.”

Foto: Everson Almeida

Em prol do vinho brasileiro

Há 10 anos, Gilberto faz parte da ABE (Associação Brasileira de Enologia). Atualmente, é diretor de degustação, ajudando a instituição de maneira voluntária. Todo ano, participa de concursos internacionais de vinhos e, por algumas vezes, teve a oportunidade de representar o Brasil no exterior. Além disso, participa da Aprovale (Associação de Produtores do Vale dos Vinhedos), como membro do Conselho Regulador, que tem o objetivo de regulizar as normas do uso da D.O..

Com otimismo e bons olhos, Gilberto acredita que o brasileiro está apreciando cada vez mais um bom vinho. Através de sua atuação na Miolo, percebe muita curiosidade por parte do público, vê que as pessoas estão participando de feiras, eventos e degustações. Também, diz que percebe que as empresas estão investindo mais no enoturismo. Aponta que o mercado de vinho está mais competitivo e a Miolo soube se adaptar, apostando em linhas que tem como objetivo explorar o que há de melhor nos diferentes terroirs brasileiros.

Um dos desejos de Gilberto para a vida é seguir elaborando vinhos e espumantes. Para finalizar, ele deixa uma mensagem aos apaixonados por vinho:

“Continuem a desbravar este encantado mundo do vinho e não se deixem levar apenas por um rótulo exótico na prateleira, conheçam a história de cada vinho que consumirem. E, para os que ainda não são adeptos, que se aproximem desse mundo, pois certamente irão se apaixonar logo logo…”

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