Na Rota do Cristal (Parte I) – Post 2

por Eduarda D’Agostini

(conteúdo publicado na Revista Terroir Boccati Edição 08 – Verão)

Continuando a viagem pela República Tcheca, trago agora a parte dois da postagem!

Praga é linda. É uma das menores capitais que conheço, porém tem bastante coisa pra ver. Em um dia sim é possível conhecer rapidamente Praga, porém em três ou quatro também tem muitas coisas para fazer. Tudo depende do estilo da pessoa e da viagem, quanto tempo se dedica às refeições, se costuma visitar os pontos turísticos somente por fora ou se tem o hábito de entrar e explorar cada edifício, castelo, museu, igreja. Praga é uma cidade bem dividida e por isso fácil de visitar. Tem o centro histórico (conhecido como Cidade Velha), o centro moderno (conhecido como Cidade Nova), o bairro judeu (Josefov) e cidade baixa (Mala Strana), todos pequenos e próximos um do outro. Existem alguns outros pontos turísticos em Praga que são um pouco mais afastados, mas ali o transporte público funciona muito bem e facilita bastante a visita.

A Cidade Velha (Staré Město) é linda, com edifícios muito bonitos e bem preservados. A Praça da Cidade Velha também é muito charmosa, rodeada de turistas, carruagens em movimento e bons restaurantes. Imperdível é ver a praça à noite, iluminada. E ali mesmo na praça fica o famoso Relógio Astronômico de Praga, que a cada hora cheia dá um show com seus bonecos em movimento. Preciso ser sincera, não gostei. E sinceramente tive a sensação que não fui a única. Poucos minutos antes da hora cheia a aglomeração de pessoas em frente ao relógio é incrível e o “show” dura pouquíssimo tempo, particularmente não me impressionou, e ainda senti que o público teve receio na hora das palmas, porque todos pensavam: É isso? Acabou? Pois é, acabou. Isso não estraga em nada Praga pra mim, mas talvez ir com menos expectativa para ver o relógio ajude para que a surpresa seja boa, por isso alerto.

Para não ficar muito extenso, vamos continuar falando sobre esse lindo país em uma nova postagem!

A Cidade Nova (Nové Město) também é muito bonita, não é assim tão nova e moderna como os centros financeiros que existem em várias capitais europeias, por exemplo, criando um contraste muito grande dentro da cidade. Mas, com certeza, vale o passeio! A principal rua, a Prikope, é conhecida como a Champs-Élysées de Praga, guardadas suas proporções eu diria, mas a comparação faz sentido. É uma grande avenida que liga dois pontos importantes da Cidade Nova – a Praça Venceslau e o Museu Nacional de Praga – e está repleta de lojas, entre elas as de souvenirs e cristais, mas também algumas de grife. Aliás, a Cidade Nova é o melhor local para fazer compras, ali fica o comércio da cidade, muitas lojas e vários centros comerciais, o que até me impressionou, pois nunca tinha visto tantos centros comerciais em tão pouco espaço. E além do comércio, também me chamaram atenção alguns edifícios desse bairro, como o famoso prédio dançante, por exemplo, bastante inusitado.

Mas o bairro mais belo, na minha opinião, é o judeu. É comum entre os países da Europa preservar alguns edifícios judaicos, mas o bairro judeu de Praga (Josefov) realmente me marcou. Achei as construções maravilhosas, em sua maioria são sinagogas antigas, além de alguns museus e até um cemitério. O bairro em si é muito bonito, um ambiente formado pelos edifícios, belas árvores, carros antigos circulando com turistas e uma sensação super agradável no local, definitivamente ótimo para passear.


Praga é uma daquelas cidades cortadas por um rio, eu amo! Nesses locais sempre é possível admirar a vista da cidade em cima de suas lindas pontes. Praga tem tudo isso e ainda mais. A Cidade Baixa, conhecida como Mala Strana, fica do outro lado do rio, e como uma cidade baixa que se preze, conta com vários restaurantes e pubs, distribuídos em meio às ruas estreitas. Ali também fica o Castelo de Praga e vários palácios e casas antigas super bem conservados. Esse é um dos bairros mais antigos de Praga, separado da Cidade Velha pela Ponte Carlos – outro ponto forte da cidade. É uma região um pouco mais afastada do centro, porém acredito que vale ir caminhando e aproveitar para cruzar a bela ponte, admirando a vista do Castelo de longe antes de visitá-lo.

E pra quem ficar mais dias, Praga ainda tem um antigo forte aberto à visitação, com muralhas, basílicas e seu segundo castelo, e também o Parque Petrin – onde fica a Torre Eiffel de Praga. Além de poder aproveitar os passeios tradicionais da cidade, de carruagem, carro antigo, ou ainda um cruzeiro pelo rio para ver a cidade através de uma perspectiva diferente. Opções com certeza não faltam.

E agora, a pergunta que não quer calar, por que estou escrevendo sobre Praga na edição de verão? Bom, essa é uma questão particular minha. Talvez o verão realmente não seja a melhor estação para ir pra lá, acredito que seja bem mais caro e que a cidade esteja absolutamente lotada. Eu fui no outono, mas realmente achei muito “cinza”, além de ter afetado totalmente meu relógio biológico o fato de o Sol se pôr às quatro horas da tarde, isso mesmo, 16:30 o céu estava negro no outono de Praga (isso em novembro, lembrando que as estações europeias são em períodos inversos aos nossos). Por isso, não aconselho ir nas estações frias, e sim, tentar encaixar a viagem na primavera ou verão.

E para fechar com chave de ouro: a enogastronomia do país!
A gastronomia da República Tcheca não é muito famosa a nível internacional. Seus pratos não são tão elaborados quanto na França ou Espanha, por exemplo, e pela falta do mar nas proximidades as opções de matéria-prima reduzem bastante. Muitas influências vêm dos vizinhos Alemanha, Áustria e Hungria, por isso, é fácil encontrar nas cartas dos restaurantes pratos elaborados com carne de porco acompanhados por batatas (clássico germânico), além do tradicional bife de porco à milanesa (popular tanto na Alemanha quanto Áustria).

A cozinha tradicional tcheca com certeza não pode ser considerada sana. Longe disso. A culinária de lá é bastante pesada, com muitos pratos à base de fritura. Devido ao habitual frio do país, é muito comum iniciar a refeição com uma sopa, sendo as mais típicas a de alho e a de batatas, essa segunda costuma ser servida no pão. O prato principal é feito com carne, seja porco, gado ou pato e sempre com molhos bem condimentados. O acompanhamento não poderia ser de outra coisa: batatas, especialmente os dumplings de batata recheados – outro prato tradicional tcheco. Saladas basicamente não existem. E ainda tem o famoso Goulash (de influência húngara), que nada mais é do que um guisado de carnes temperado com especiarias e acompanhado por pães.


Depois dessa leve refeição, podemos partir para a sobremesa. Não existem muitas opções originais, normalmente são panquecas ou crepes recheados. O doce mais diferente que encontrei foi o famoso Trdelník ou Trdlo, que não é originalmente tcheco, porém pode ser encontrado em qualquer canto da cidade. É um rolinho de massa assado coberto com açúcar e canela, que pode ser comido puro ou recheado. As opções de recheio são variadas e criativas, algumas podem ser bastante estranhas, mas provar é sempre bom! Eu fico com o tradicional de morangos com chantilly.

Existem poucos restaurantes realmente tradicionais em Praga, até porque não é uma culinária ideal para turistas numa rotina de viagem, que muitas vezes pede refeições mais leves. O bom é que ali também têm ótimos locais onde podemos comer algumas versões mais “modernas” dos pratos tracionais.

E a bebida? Bom, dizem que a gastronomia de um país se desenvolve a partir da bebida local e o ponto forte tcheco é, com certeza, a cerveja – ótima para acompanhar pratos pesados. Ali é consumida a maior quantidade de cerveja per capta na Europa: mais de 140 litros por ano. A cerveja Pilsner Urquell foi a primera do tipo Pilsner no mundo, começou a ser fabricada na República Tcheca em 1842 e segue sendo das melhores. Além da famosa marca, é possível encontrar diversos tipos de cervejas nos restaurantes, de cervejarias pequenas espalhadas pelo país. Normalmente são servidas em barril e, para quem gosta, vale a pena provar.

Já quando o tema é vinho, a produção no país é bastante pequena, porém de qualidade. Ali podemos encontrar de tudo: tintos, brancos, espumantes e o famoso icewine*, porém a maior parte da produção é de brancos. Vale a pena experimentar, já que encontrar vinhos tchecos fora do país não é fácil. Porém, a tendência é que isso mude. Há alguns anos, a procura por seus vinhos vem aumentando, devido especialmente à sua qualidade.

A Morávia, localizada na parte oriental do país, é basicamente a única região vinícola. Ali o enoturismo está crescendo e atraindo cada vez mais visitantes que estendem sua viagem além da capital Praga. O acesso é fácil tanto em trem ou ônibus, quanto em carro, e as paisagens são belíssimas, especialmente no período da vindima, que inicia logo ao acabar o verão. Nessa época, se celebram diversos eventos com o tema vinho pelo país, especialmente em Praga e nos vinhedos do seu Castelo, que estão entre os mais antigos da República Tcheca. E ainda, depois da vindima, há o Festival de São Martinho, que começa dia 11 de novembro e também é regado a muito vinho.

Ah claro, não posso deixar de mencionar o vinho quente (nosso típico quentão), que também é muito famoso na República Tcheca, bebida que rega muitos festivais de comida de rua.
Seja com vinho quente, icewine¹ ou cervejas, visitar a República Tcheca sempre merece um brinde!

¹Icewine: vinho produzido com uvas congeladas, que apresenta como características um vinho denso com alto teor de açúcar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *