Quando me perguntam por que Madrid…

por Eduarda D’Agostini

(conteúdo publicado na Revista Terroir Boccati Edição 05 – Outono)

Não estava nos meus planos falar muito sobre capitais, na verdade a ideia era dar dicas de viagens além do convencional e mostrar lugares que nem sempre estão nos roteiros. Particularmente, também não sou fã número 1 das capitais, sinto dificuldade em conhecer realmente a essência do país nessas cidades, até porque elas giram muito mais em torno do turismo, “criando” atrativos para os visitantes, quando às vezes a simples tradição local já seria o suficiente.

Há pouco tempo eu não me lembrava de uma capital que me despertasse interesse em voltar, mas com Madrid minha história foi diferente. Hoje, é a cidade que escolhi para viver, mas no início também confesso que não me atraía muito. Minha primeira viagem para a Espanha e para a Europa foi quando eu tinha apenas completado 18 anos. É claro que preferi mil vezes Barcelona a Madrid, na verdade nem gostei muito de Madrid na época. Visitei Madrid outras vezes e, aos poucos, comecei a ver a capital com outros olhos. Mas foi só em 2017, nas minhas últimas férias antes de me mudar definitivamente, que percebi que era Madrid para onde eu deveria ir. Confesso que amadureci meu sentimento e percepção pela cidade conforme eu mesma amadureci. Barcelona é incrível, badalada, alegre, vibrante, além de ter praia, e por isso é a cidade mais visitada da Espanha. Mas, como eu disse no início, a ideia não é mostrar o mais popular e atrações “criadas” para os visitantes e sim trazer a essência do local.

Pretexto para vir para Madrid não falta. Além de ser a capital da Espanha, um dos cinco países mais visitados do mundo, é uma cidade que recebe diferentes pessoas, por diferentes motivos, a cada dia. Não precisa ser só por turismo, pode ser por negócios, pode ser para praticar um hobby. Madrid anualmente recebe feiras e congressos, festas internacionais, grandes eventos esportivos e qualquer coisa que você puder imaginar. A cada fim de semana os cartazes das ruas mudam e divulgam um novo motivo para a cidade receber visitantes. O povo de Madrid tem fama de hospitaleiro e, com tantas atrações na cidade, não faltam oportunidades para conhecer e apreciar essa famosa hospitalidade.

E ainda, além dos “grandes” eventos que a cidade recebe, a vida lá já é agitada o suficiente para rechear um roteiro de viagem. Ao andar pela Gran Vía é possível ver infinitas opções de shows, teatros e musicais que são apresentados diariamente – espetáculos apreciados por madrileños, espanhóis de outras regiões do país e turistas de qualquer parte do mundo. Em diferentes épocas do ano, Madrid promove os mais diversos eventos pela cidade, distribuídos em seus bairros: festivais gastronômicos, feiras de artes e antiguidades, festas locais, shows e apresentações. O Natal em Madrid possui uma vasta programação e é, sem dúvida, a época em que a cidade está mais cheia. Já eu, tenho um carinho especial pelo grande evento Veranos de la Villa, que acontece durante os três meses de verão com manifestações artísticas e culturais, shows de dança, música e teatro, e programação gastronômica por toda a cidade, sendo a maioria gratuita e sem limite de público, pois são realizados ao ar livre, nos mais diversos parques de Madrid.


Ah, os parques… Madrid é uma cidade muito verde e com muitos parques. Os principais são o Casa de Campo, o Parque do Retiro e o Madrid Rio, mas praticamente todos os bairros têm uma área verde onde seus moradores podem tomar um ar, praticar esportes, levar seus filhos para se divertirem e seus animais de estimação para passear. E o melhor de tudo é que a manutenção dos parques é muito boa e constante, deixando-os em condições para que os moradores possam desfrutar e eles realmente desfrutam, em qualquer estação do ano, em qualquer horário do dia. Aqui a vida é na rua.

Costumam dizer que na Europa existem muitos idosos, realmente é um dado estatístico. Mas há uma grande diferença entre “existir” muitos idosos e que esses idosos sejam vistos.  No Brasil também existem idosos, porém eles não têm tanto o costume de sair de casa. Aqui em Madrid, eles vivem nas ruas, eles saem, eles caminham, vão às praças e parques, fazem feira, se encontram com os amigos, não importa se eles caminham como se tivessem 20 anos ou se precisam de algum tipo de auxílio para andar, eles simplesmente saem e vivem. E essa é uma cultura europeia e acima de tudo espanhola, que é vivida por todos, desde crianças até a terceira idade.


O velho dilema do ovo e da galinha me faz analisar um pouco essa cultura espanhola de viver tanto na rua. Aqui as casas e apartamentos são pequenos e principalmente as cozinhas minúsculas, será que é por isso que os espanhóis saem tanto para comer? Ou será que é justamente porque eles não têm o hábito de estar em casa e cozinhar que as casas já são feitas assim? Bom, o que veio antes eu não sei, o que sei é que os espanhóis sim sabem aproveitar a vida, principalmente quando o assunto é comer e beber bem. Aqui o povo vive a rua, todo dia é dia para comemorar, sair do trabalho e ir em algum bar ou restaurante, seja com os colegas, amigos ou familiares. As casas servem basicamente para guardarmos nossas coisas (que também não são muitas, pois o materialismo aqui é baixo) e dormir.

E é graças a essa maravilhosa cultura espanhola de sair e viver na rua, que os turistas têm a oportunidade de escolher entre milhares de opções para sair comer e beber a qualquer hora do dia em locais onde podem conviver com os espanhóis e desfrutar o melhor da gastronomia daqui. Hoje, a Espanha é o país com mais restaurantes de alto nível do mundo e muitos deles estão em Madrid. Se a ideia for conhecer um restaurante TOP não faltarão opções, sendo que a maioria desses restaurantes estão nos próprios hotéis, e são abertos ao público externo, não somente aos hóspedes.

Porém, para comer bem aqui não precisamos nem nos preocupar com a quantidade de estrelas ou premiações que o restaurante tem. Não há necessidade de sair muito do centro e das áreas mais turísticas para poder viver uma experiência que eu particularmente acho muito gostosa na Espanha – quando você vai a um bar e pede uma taça de vinho ou de cerveja, e junto o garçom traz  uma “tapa”, que são comidinhas tradicionais espanholas. E aí você pede outra taça de vinho e o garçom traz outra tapa para acompanhar. E assim vai. Então, em uma noite você pode provar vários vinhos e várias tapas, investindo pouco, pois além de tudo os preços aqui são bastante econômicos.

Foto: Arquivo Pessoal

A Espanha é um país pequeno, porém rico cultural e gastronomicamente em cada uma de suas regiões. Vale muito a pena viajar pelo país e conhecer o melhor de cada local, porém se faltar tempo para tudo, em Madrid é possível viver uma mistura de toda a Espanha. Existem locais específicos para conhecer a cultura e especialmente a culinária de cada cantinho da Espanha. Existem locais específicos para conhecer a cultura e especialmente a culinária de cada cantinho da Espanha. Não deixe de provar a tradicional Paella, o maravilhoso Jamón e os deliciosos Churros espanhóis!

Conto um pouco mais sobre essas delícias neste post!

E com tantas opções gastronômicas, desde as tradicionais tapas até os restaurantes estrelados de Madrid, como fazer na hora da harmonização com vinhos? Pararesponder essa pergunta, conversei com nosso sommelier Marcelo Weigl, que nosconta um pouquinho sobre o mundo dos vinhos espanhóis.

Atualmente, a Espanha é o terceiro maior produtor de vinhos do mundo, tanto em quantidade como em qualidade. Ela é dividida em 13 macrorregiões com uma variedade de uvas grande o suficiente para ser uma das referências na produção vitivinícola mundial. Mesmo sendo conhecida pelas variedades de uvas tintas como a Tempranillo, Garnacha, Monastrell, a maior quantidade de cepas que produz é de variedades brancas, sendo as principais: Verdejo, Albariño, Xarel-lo e Viura, utilizadas não somente na produção de vinhos brancos, como também para elaborar as famosas cavas.

É importante destacar que toda Cava é um espumante, mas nem todo espumante espanhol é uma Cava. No século XIX foram feitas as primeiras garrafas em uma pequena província de Barcelona, já a Denominação de Origem saiu em 1972 com a necessidade de regulamentar a produção de espumantes, tendo 106 cidades autorizadas para produzir em sete comunidades diferentes, sendo a principal região a Catalunha. A elaboração é feita através do Método Tradicional (Champenoise), a espumante precisa passar, pelo menos, nove meses em contato com a levedura após a fermentação e as três uvas utilizadas na produção são Macabeo, Xarel-lo e Parellada.

A legislação espanhola é regida por normas para a qualificação dos seus produtos, as quais são registradas perante a União Europeia. As duas principais denominações que englobam a produção de vinhos, os DOP (Denominación de Origen Protegida) e os IGP (Indicación Geográfica Protegida). Caso os vinhos não se enquadrem nas especificações dessas denominações, são rotulados somente como “Vino”. Além de tratar das regiões produtoras, a legislação espanhola também categoriza os vinhos no país levando em conta seu envelhecimento e assim podemos entender porque na Espanha é possível harmonizar qualquer menu sempre com uma opção de vinho espanhol. Essas categorias são:

Jóven: vinhos engarrafados no próprio ano ou no ano seguinte da safra, podendo ou não ter passagem em madeira.

Crianza: para tintos o envelhecimento deve ser de, pelo menos, 24 meses, sendo seis em barrica. Nos brancos e rosés, o período é de 18 meses, sendo seis de passagem em madeira.

Reserva: nessa categoria, as vinícolas selecionam os melhores lotes para produção. Os tintos precisam estagiar 36 meses, sendo no mínimo 12 em barricas. Para brancos e rosés o envelhecimento é de 24 meses, sendo seis em barricas.

Gran Reserva: vinhos feitos somente em safras excepcionais. Os tintos envelhecem por 60 meses, 18 em barrica. Brancos e rosés por 48 meses, sendo seis em barrica.

Com certeza opções enogastronômicas não faltarão em Madrid. Mas o que fazer fora do horário das refeições? Compras! Por exemplo. Madrid possui diversas zonas para compras, o bairro Salamanca para marcas de luxo, o centro e os bairros vizinhos, as ruas Gran Vía e Fuencarral para compras mais convencionais, além de diversos centros comerciais espalhados por Madrid e também várias opções de Outlets nos arredores da cidade.

Além de tudo, Madrid ainda tem ótimos museus – como o Museu do Prado –, galerias de arte, com obras internacionalmente famosas e uma agenda vasta de exposições e eventos para quem aprecia a arte. Fora os artistas de rua, que na minha opinião dão vida a muitos lugares na Europa. É muito gostoso estar passeando e ouvir uma música ao vivo, poder apreciar um show de dança ou a performance de algum personagem. É claro que, como em qualquer lugar, sempre existem alguns um pouco inconvenientes, porém gosto de valorizar aqueles que tornam meu dia melhor.

A parte turística e histórica de Madrid é linda, cheia de edifícios, monumentos e praçaspara conhecer. Ao caminhar pela cidade, nas áreas mais centrais ou até mesmoafastadas, muitos prédios e monumentos nos chamam atenção por sua arquitetura edetalhes, podemos ter certeza que cada ponto que despertar nosso interesse, temuma história para contar.


Isso sem falar sobre o esporte, Madrid hoje tem grandes clubes e a chance de poder apreciar um bom jogo de futebol é ampla. Além de outros esportes que podem ser acompanhados, como o basquete, por exemplo, também muito difundido na Espanha.

Sempre que programamos uma viagem, pensamos no clima do local. Particularmente gosto muito do clima de Madrid. Por ser seco, ameniza tanto o inverno quanto o verão. A baixa incidência de chuva é ótima para aproveitar a vida na rua. O Sol está sempre presente, aquece os dias frios e aquece bastante os dias da primavera e verão, período em que se põe muito tarde (em torno de 22:00). Na dúvida, se não tiver interesse por algum evento em específico, programar a visita nas meias estações é a melhor opção.

Madrid é muito bem localizada, fica exatamente no centro do país. Portanto, podemos planejar algumas escapadas pela Espanha. Existem muitas opções, viagens longas ou os famosos “bate e volta”. Uma região vinícola próxima e linda para visitar é a famosa La Rioja e também algumas cidadezinhas medievais que vale o passeio são Toledo e Segovia. Definitivamente Madrid é uma cidade para passar vários dias e a Espanha em si, precisa de várias viagens para ser desbravada.

Para poder preparar uma viagem de acordo com nossos gostos e estilo pessoal, o site oficial de turismo de Madrid é uma ótima fonte (esmadrid.com), indico acompanhar ali os eventos que estão rolando e também os principais pontos para conhecer da cidade.

Espero vocês em Madrid!

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