Um brinde ao protagonismo das mulheres no mundo do vinho

Por Caiani Lopes

O universo dos vinhos é conhecido por ser predominantemente masculino, onde sommeliers, enófilos e produtores ditam as regras. Essa afirmação poderia estar correta até há alguns anos, no entanto – e ainda bem – este cenário está evoluindo. As mulheres estão deixando os papéis secundários, ou de apenas musas inspiradoras, para se tornarem protagonistas deste nicho. Rompendo barreiras e quebrando estereótipos, seja na área técnica como enólogas, produtoras, sommèlieres e até mesmo como Masters of Wine ou Master Sommeliers.

Esta crescente presença das mulheres no mundo dos vinhos pode ser corroborada por um estudo publicado recentemente pela revista Food Quality and Preference. A pesquisa destacou que as mulheres têm um paladar mais apurado e conseguem distinguir sabores que os homens normalmente não conseguem quando provam a bebida.

A explicação tem a ver com o peso emocional que homens e mulheres dão na hora de degustar um vinho. De acordo com os dados, os homens costumam ter um comportamento mais emocional com a bebida resultando em uma maior dificuldade de diferenciar seus tipos e sabores.

Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, nada mais justo do que prestar uma homenagem às mulheres que fizeram e fazem história no mundo do vinho. Confira abaixo cinco personalidades que deixaram seu legado na enologia.

 

A Grande Dama de Champagne

Para iniciar este tour voltemos à Europa de 1800, época em que Barbe-Nicole Clicqout ficou viúva e assumiu os negócios do marido. Veuvé Clicquot foi a primeira mulher a comandar uma casa de champanhe, isso aos 27 anos. Apesar de não ter estudos formais, pois na época eram restritos aos homens, ela administrou tão bem a vinícola que tornou-se líder em um segmento dominado por homens.

A criação mais importante de Veuvé Clicquot é o processo do remuage para a produção massiva, fundamental na elaboração de espumantes de método tradicional. Com isso, se tornou uma das mais ricas empresárias da Europa e ainda hoje a empresa leva seu nome em um lindo rótulo amarelo: Veuvé Clicquot.

 

 

Pioneirismo, empreendedorismo e Vinhos do Porto

Antónia Adelaide Ferreira, outra mulher visionária e a frente do seu tempo. Sua bondade foi tanta que no seu funeral teve uma procissão com mais de 300 mil pessoas que foram se despedir.  Ela era conhecida como Ferreirinha e seu faro para os negócios deu novos rumos aos vinhos do Porto. Quando assumiu as vinícolas da família, viajou para a Inglaterra e aprendeu técnicas de combate a praga filoxera, que acometia diversas vinhas no vale do Douro.

Após isso, atribuiu-se a ela a qualidade que os vinhos portugueses adquiriram no século XIX e mantêm até hoje.  Por ser também solidária, é lembrada pela ajuda aos produtores falidos, quem sempre apoiou com a força e a paixão que a caracterizavam. Quando faleceu, em 1896, deixou uma fortuna considerável e perto de trinta quintas (vinícolas).

 

 

Uma das responsáveis pela adega da rainha da Inglaterra

Ela foi a primeira mulher, até então fora dos negócios dos vinhos, a conquistar o título de Master of Wine. A jornalista Jancis Robinson é uma das maiores autoridades em vinhos da atualidade e seu destaque é tão grande que se tornou uma das responsáveis pela seleção de vinhos da rainha da Inglaterra.

Jornalista por formação, é crítica especializada e tão respeitada que criou um método próprio de pontuação de rótulos, que é totalmente diferente do sistema de 50 a 100 pontos, do Robert Parker e replicado por vários outros pontuadores. Ela escreve semanalmente para o Financial Times e diariamente no seu site JancisRobinson.com. Além disso, já publicou diversos livros icônicos sobre a cultura do vinho. Todo este conhecimento também pode ser visto nas suas participações de simpósios ou como jurada venerada em concursos de vinhos. Prestígio conquistado por poucos, sobretudo em um ambiente majoritariamente masculino.

 

A mulher que levou do Brasil à presidência da OIV

A mulher que levou o Brasil para um lugar de destaque no mundo dos vinhos. A doutora em enologia pela Universidade de Bordeaux (França) e professora na UCS (Universidade de Caxias do Sul), Regina Vanderlinde foi eleita em 2018 presidente da maior instituição mundial do vinho, a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), com sede na França. Ela permaneceu no cargo por 3 anos e atualmente é vice-presidente.

Além de sommelière e juíza internacional, Regina tem uma carreira de mais de 30 anos dedicada à pesquisa na área enológica. Atualmente, mora em Florianópolis (SC), sua terra natal, e em parceria com uma amiga lançou o primeiro vinho do Brasil com colágeno, o Bella Collagen Sparkling Pink. O sucesso foi tanto que o primeiro lote esgotou ainda na pré-venda.

 

 

A sommèliere do melhor restaurante do Brasil

A última mulher da nossa lista, mas nem por isso menos importante, foi eleita duas vezes como a melhor sommèliere do Brasil. Com este título é natural que ela,  Gabriela Monteleone, comande a adega de um dos melhores restaurantes do país, o D.O.M., que tem duas Estrelas Michelin.

O restaurante paulistano sempre contou com bons profissionais, no entanto a seção dos vinhos só alcançou o nível da gastronomia do restaurante, com a chegada da sommelière. O sucesso se deu, pois ela soube unir as sutilezas do vinho com a gastronomia criativa do chef Alex Atala.

Ainda há muito caminho pela frente para que o mundo do vinho seja equiparado entre homens e mulheres, mas destacar estes exemplos de sucesso faz com que o caminho das próximas seja mais fácil de trilhar. Aqui, deixamos esta breve homenagem a algumas delas. Um brinde!

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